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“Por que não lutei? Por que não corri?”, se questiona Salman Rushdie nas primeiras páginas de Faca, seu mais recente livro, lançado dois anos após o atentado que quase lhe tirou a vida, quando foi brutalmente esfaqueado no palco de um anfiteatro em Chautauqua, estado de Nova York, onde falaria, ironicamente, sobre a importância de garantir a segurança de escritores. A motivação do assassino, que cumpria a fatwa emitida havia mais de trinta anos pelo aiatolá Khomeini, não é de fácil compreensão. Hadi Matar, nascido na Califórnia e residente em New Jersey, admitiu que havia lido apenas uma ou duas páginas de Os Versos Satânicos e assistido a alguns vídeos no YouTube. E que ele simplesmente não achava Rushdie uma boa pessoa. “Eu não gosto dele. Eu não gosto nada dele”, repetiu em entrevista ao New York Post. A hipótese de Rushdie para o fato de ter ficado “parado como uma piñata”, como disse posteriormente, para ser atingido em vez de lutar ou fugir, interessa. Segundo o romancista indiano, teria a ver com uma “crise de entendimento do real” vivida pelos alvos da violência. “A violência espatifa o quadro” que organiza nossas vidas. “Uma escola é um local de educação. Uma sinagoga, um local de culto. Um supermercado, um local de compras. Um palco, um espaço para apresentações.” Essa moldura em que vivemos fornece “uma imagem estável do mundo”. Quando a violência emerge, “a realidade se dissolve e é substituída pelo incompreensível”.
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